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Porque os EUA apreciam tanto seus policiais e militares?

Uma pergunta frequente que sempre recebo e’ “Porque policiais e militares sao tao respeitados e apreciados pela populacao dos EUA?”.

Seguem alguns exemplos:

 

Da mesma forma que eu recebo as perguntas, eu tambem ouco inumeras explicacoes pra esse fenomeno: a historia belica dos EUA, os recentes conflitos que enaltecerem o espirito patriota, e nao sei quantas outras teorias.

Na realidade, a resposta e’ bem simples. Mas antes de entrar nessa explicacao, gostaria de compartilhar uma historia recente que aconteceu em uma das nossas cidades aqui da California, Lancaster.

Segue o link da materia do LA Times

A historia comeca em 2005, quando Jerral Hancock tinha 18 anos e alistou no Exercito. Desempregado e com uma filha recem-nascida, tinha sido abandonado pela esposa e dormia no chao da casa dos seus pais. Decidiu que queria mudar sua realidade, e decidiu entrar no Exercito e ser piloto de tanques.

Num fatidico dia, 29 de maio de 2007 (e seu 21o aniversario) uma bomba artesanal explodiu seu tanque no Iraque. Ficou paraplegico, teve queimaduras em 30% do seu corpo e teve seu braco esquerdo amputado.

Voltou pra casa e sofreu com depressao. Um dos inumeros casos de veteranos que voltam de nossas guerras e somem das vistas das pessoas no dia-a-dia.

Ate que uma professora de 2o Grau, Jamie Goodreau, cruzou o caminho com este veterano.

A filosofia dela e’ simples: Historia e’ um ser vivo, e todos podem ser parte dela. E e’ essa filosofia que a leva a desafiar os estudantes a serem parte da Historia. E foi atraves desse desafio, que os alunos decidiram criar um jantar beneficiente chamado de Pride of the Nation (Orgulho da Nacao). E foi nesse jantar de 2013 que ela e seus alunos conheceram Jerral.

Logo veio um convite para que ele viesse a sua sala de aula compartilhar a sua historia de Guerra. A agonia fisica, os pesadelos noturnos. A disordem pos-traumatica causada pelo incidente. E sua luta em adaptar a uma casa pequena, que o impedia de circular pelas portas estreitas demais pra cadeira de rodas.

No dia seguinte, incomodados, os alunos se reuniram somente entre eles e decidiram construir para ele uma casa nova.

Criaram uma organizacao chamada OATH – Operation All the Way Home (traduzido algo como “Operacao Ate em Casa”), e passaram suas ferias escolares lavando carros, vendendo canecas de café, recolhendo doacoes na frente do supermercado, vendendo pizza na rua e organizando bazares. Os presos de uma prisao nao muito longe doaram obras e joias artesanais para serem vendidas pelos alunos. No primeiro ano arrecadaram 170 mil. No segundo ano ja tinham mais de 350 mil.

OATH

Compraram um lote, e comecaram a construir. A agente imobiliaria nao cobrou sua porcentagem da venda do lote, e arquitetos da cidade desenharam a planta de graca. Durante a construcao, alunos escreveram mensagens de apoio nas colunas da casa.

Em Maio de 2015, os alunos juntamente com centenas de membros da comunidade, entregaram a chave da casa pro veterano de guerra.

Historia bonita nao e’? Mas ela nao e’ unica. Casos assim tem acontecido em varias partes do pais, alguns mais noticiados que os outros.

O que nos leva a grande pergunte: Porque nos EUA, policiais e militares sao tao apreciados?

 

Ja venho analisando varias das teories que mencionei anteriormente, como historia belica dos EUA, a influencia de Hollywood com filmes que glorificam a Guerra, dentre tantas outras, mas cheguei a conclusao que nada disso tem tanto peso quanto algo bem simples: imparcialidade.

 

Apesar dos EUA terem um historico de presidentes que serviram as forcas armadas, nenhum deles serviu como politico e militar simultaneamente. Se serviu, foi na juventude e por livre espontanea vontade (nos EUA, o servico militar e’ voluntario). Hoje nao existe nenhum legislador que e’ policial ou militar. Pode buscar no google. Existe um ou dois que ja foram anos antes. Mas deixaram de ser, porque ser politico requer ser parcial a uma causa ou uma ala.

O que eu estou argumentando e’ que ha uma imparcialidade politica tanto nas forcas armadas quanto nas policias. Porque estas instituicoes, independente de sua historia ou de sua missao, sao essencialmente reflexos de sua sociedade como um todo. E nao de um so segmento. Elas devem representar e defender TODOS da sociedade igualmente, e isso inclui os da direita e da esquerda, os religiosos e ateus, os gays e heteros, os anarquistas e os conservadores. Ela PRECISA ser um reflexo da sociedade que ela protege, e isso inclui ter em suas fileiras representantes destes grupos.

 

Parte-se do principio que valores sao altamente subjetivos e temporais. O que e’ visto como “decente e aceitavel” ou “indecente” hoje, nao significa que seja visto da mesma forma amanha ou daqui a 10 anos. E pra uma instituicao centenaria como as forcas armadas americanas(desde 1776) ou ate mesmo da policia de Los Angeles (1850), os valores daquela epoca com certeza nao sao os mesmos de hoje, e nem sera os mesmos daqui a 100 anos. Os valores passam, a instituicao nao.

A policia e as forcas armadas perdem sua credibilidade a partir do momento em que a sociedade comeca a ver partidarismo na instituicao. Porque partidarismo requer escolher entre ser A ou B. E quando houver conflito entre o A e o B a policia ter que intervir? Se a policia escolheu ser A, o lado B certamente ira perder sua fe naquela instituicao. E a perda da credibilidade e’ a morte de uma instituicao.

O que me leva ao caso do Jarrel. Nao foi o governo que foi la construir uma casa. Foram alunos, e destes alunos com certeza tem membros desses grupos minoritarios, mas isso pouco importa, porque a figura do militar pra eles nao e’ de um que defende certos valores. Ele defende o direito de TODOS terem seus valores respeitados em uma sociedade democratica. Entao se tem um aluno anarquista nesse grupo, pouco importa: esse aluno nao ve o soldado como uma entidade antagonica a sua opiniao anarquista. Duvido que alunos ou membros da sociedade, por mais que movidos por altruismo, fossem dedicar seu tempo a um militar que fosse visto como contrario as opinioes contrarias.

Alem dos alunos, a propria professora foi imparcial. Nao glorificou a Guerra, mas decidiu mostrar os efeitos dela. Tem gente que acusaria ela de ser esquerdista e pacifista. Pode ate ser verdade. Mas nao deixou de mostrar um respeito ao sacrificio do individuo pertencente a um sistema militar que defende TAMBEM sua opiniao esquerdista. E foi exatamente essa visao que foi passada aos seus alunos.

Entao pode ate ser que os militares e policiais tenham sido associados a ala conservadora anti-comunista da politica brasileira. Ta no passado e faz parte da historia das instituicoes. O erro nao e’ esse. Nao da pra reescrever o passado.

 

O erro e’ continuar a perpetuar o partidarismo e resistir a uma reforma. E essa reforma nao significa ir pro outro lado oposto do espectro politico e virar comunista. Uma reforma eficaz e’ deixar o passado no passado, e tornar-se uma instituicao democratica e republicana que seja neutra politicamente e defenda os interesses da populacao INTEIRA.

Ou cair na velha armadilha dos exercito russo que matou milhoes em nome do comunismo (esquerda)e do exercito alemao que matou milhoes em nome do nazismo (direita).

Ai com certeza vai ter alguem que vai afirmar “Ah, mas tanto as forcas armadas quanto a policia estao nas maos dos politicos, entao nao da pra ser imparcial…”.

Esse assunto, da inter-dependencia da policia com o governo e’ o proximo assunto a ser abordado no proximo post.

 

Ate a proxima!